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Uma das principais características de 2021 é que, na grande maioria das redes, esse foi um ano letivo que começou de maneira remota e chegou ao fim com aulas 100% presenciais. E tudo isso em meio a uma pandemia, em que cada professor e cada estudante foram afetados de um jeito diferente pela crise e por seus múltiplos impactos.
As escolas se veem, então, diante de um cenário em que todos estão reunidos novamente na sala de aula presencial. Nesse contexto, precisam lidar com as consequências deste momento tão delicado que, mesmo com o avanço da vacinação, ainda não acabou.
No entanto, antes de intensificar discussões importantes, como a recomposição das aprendizagens afetadas pelo biênio pandêmico, é válido fazer um balanço das ações, práticas, tropeços e acertos que marcaram esse ciclo que se encerra em dezembro. A partir das produções da equipe de jornalismo da NOVA ESCOLA e das entrevistas com professores ao longo de todo o ano, preparamos uma retrospectiva com os principais acontecimentos que marcaram o universo da Educação em 2021.
Momentos diferentes de cada rede
Em um país de dimensões continentais e sem uma coordenação nacional, o enfrentamento e os impactos da pandemia foram diferentes em cada rede – como foi possível perceber desde 2020. Cada uma buscou encontrar caminhos e soluções para seus desafios específicos. Com isso, o ensino remoto e o híbrido funcionaram de maneiras diversas em cada localidade.
Com o início da vacinação, acrescentou-se um novo elemento a essa realidade: cada estado avançou de forma própria na vacinação da população. Assim, alguns priorizaram os professores desde o início, enquanto outros demoraram para adotar a medida.
Tentativa de retorno presencial e avanço na vacinação
No início do ano, dando continuidade ao movimento iniciado em 2020, determinadas secretarias seguiram com o retorno presencial gradual – algumas, inclusive, começaram o ano letivo desta forma.
No entanto, em março de 2021, vivemos a devastadora segunda onda da pandemia. O aumento assustador dos números de casos e de mortes levou a novo fechamento das escolas. A instabilidade gerou grande insegurança e preocupação em relação a quanto tempo mais duraria a pandemia e, consequentemente, o ensino remoto.
A imunização continuou avançando e vimos a queda dos contágios. Começaram a surgir notícias de cidades que alcançavam 100% da população adulta vacinada – como foi o caso de Serrana (SP). Enquanto para alguns municípios isso representava uma grande esperança, para outros ainda era uma realidade distante.
Nesse contexto, (re)começaram as discussões para uma nova tentativa de retorno presencial. Havia uma expectativa de que a volta fosse realizada apenas com a imunização de todos os educadores. Algumas redes colocaram essa condição, enquanto outras determinaram o retorno antes desse momento. Mesmo entre imunizados, existia outro problema: nenhum aluno ainda havia sido vacinado.
Com protocolos de biossegurança e revezamento de estudantes nas escolas, a retomada presencial começou gradualmente e aumentou o número de instituições trabalhando em contexto híbrido ou semipresencial.
Atividades híbridas (ou semipresenciais) e uso de metodologias ativas
O retorno presencial gradual demandou uma série de mudanças na rotina escolar e, especialmente, na prática dos professores. Os educadores precisaram criar um planejamento que desse conta de três grupos: os alunos que estavam em sala de aula, aqueles que estavam em casa por causa do revezamento e quem optou por continuar 100% de forma remota. Com isso, levantou-se uma discussão sobre quais estratégias pedagógicas seriam mais interessantes ou adequadas para dar conta desse cenário.
Antes mesmo da retomada, já existia um debate em torno do que consistiria o ensino híbrido que as secretarias de Educação falavam. O termo foi utilizado para denominar o modelo de ensino que vivíamos naquele momento, combinando aulas presenciais e remotas. No entanto, ele também é um tipo de metodologia ativa que integra atividades presenciais e on-line, na qual os recursos digitais são utilizados para coletar dados e informações que serão analisados pelo professor com o objetivo de personalizar o ensino.
Com isso, criou-se uma confusão entre o formato de revezamento e essa estratégia pedagógica, pois o termo começou a ser utilizado como sinônimo de ensino semipresencial. Em sua concepção original, não é possível implementar o ensino híbrido (metodologia) em um modelo em que os alunos não estejam 100% no formato presencial, com atividades complementares em ambientes virtuais. O que é possível, e que foi observado, são professores da rede pública que se inspiraram nos modelos híbridos para preparar as aulas durante a retomada gradual – ou até mesmo que adaptaram essa ou outras estratégias durante o ensino remoto em contextos com e sem tecnologia.
Em um momento em que se discute como inovar em sala de aula, o ensino híbrido e outras metodologias ativas são ótimas opções para promover uma aprendizagem significativa e favorecer o protagonismo dos alunos.
Retorno presencial obrigatório
No início do segundo semestre, observou-se aumento no número de escolas que voltaram a abrir as portas – ainda que com esquemas de revezamento e com retorno optativo. Na reta final do ano, entre outubro e novembro, houve um movimento na rede pública de retorno obrigatório para 100% dos alunos. Isso exigiu pensar em uma série de adaptações para o novo formato e em como garantir os protocolos de biossegurança.
Em paralelo, com a presença de todos os estudantes na escola e sem os problemas de conectividade ou acesso ao ensino remoto, foi possível começar, de fato, o processo de recomposição de aprendizagens. Neste ano ocorreu o pontapé inicial e, em 2022, o avanço deve ser ainda mais significativo.
Os desafios da gestão escolar
Dentro das mudanças, incertezas e inseguranças do período, a gestão escolar teve a missão de orquestrar e apoiar todo esse processo. As demandas foram desde a busca ativa e a garantia dos protocolos, até auxiliar os professores no replanejamento contínuo e organizar o apoio pedagógico. Além disso, também houve uma preocupação com o aspecto emocional e com o acolhimento da equipe e da comunidade escolar.
A coordenação pedagógica teve o papel fundamental de dar continuidade às formações na escola durante todo esse período, seja de forma remota, seja presencial (quando foi possível). Também buscou caminhos para auxiliar na preparação da escola e apoio dos professores no retorno presencial.
Do ponto de vista da direção, além dessas ações, também foi importante contemplar discussões e reflexões sobre temas importantes, como a Educação Antirracista e Inclusiva.
Conectividade
Em 2020, vivemos um momento de muita discussão sobre o uso de tecnologias na Educação. Educadores foram atrás de formação e aprenderam, na prática, como usar os recursos digitais. Mas, o que se concluiu, no fim do ano, era que poucos alunos conseguiam realmente participar por falta de acesso. Em 2021, não foi diferente.
Houve um entendimento de que a tecnologia veio para ficar e que ela poderia ajudar a lidar com os impactos deixados pela pandemia. No entanto, ainda existe grande questionamento: como incluir todas as escolas, educadores, alunos e famílias nessa mudança? Com isso, foram apontadas as desigualdades de conectividade entre as redes e pensou-se em como garantir o acesso e preparar os professores para essa mudança. Também tivemos o marco do leilão do edital da frequência 5G, que garantia o compromisso de investimento na implementação de internet em escolas públicas.
Fechamento do ano e planejamento para 2022
Com o gradual retorno presencial estabelecendo-se nas redes do país no segundo semestre, especialmente em outubro e novembro, essa volta ao espaço físico escolar coincidiu com duas dinâmicas habitualmente complexas do dia a dia dos educadores: o fechamento do ano letivo e o planejamento da transição para o próximo.
Assim, a finalização de 2021 trouxe diversas situações desafiadoras para os gestores escolares, como as definições de como avaliar alunos em um ano tão atípico – e as especificidades desse processo na Educação Infantil –, além da condução da reunião de pais de fim de ano.
Entre essas demandas, duas delas exigem uma articulação intensa entre diretores, coordenadores pedagógicos e professores: a estruturação do último conselho de classe do ano – momento de fazer um balanço de tudo o que foi realizado – e o início do planejamento da transição para 2022. Este é um trabalho que se iniciou agora e será intensificado e consolidado nos meses de janeiro e fevereiro.
Novo Ensino Médio
Em 2020 e 2021, existia a expectativa de que o Novo Ensino Médio começasse a chegar nas escolas. A Reforma de 2017 previa um período de implementação de, no máximo, cinco anos após a homologação do marco legal, ou seja, até 2022. No entanto, em julho de 2021, por causa da pandemia, o Ministério da Educação (MEC) publicou um novo cronograma que coloca para 2022 a obrigatoriedade da implementação dos referenciais curriculares, pelo menos, para o 1º ano. No 2º e no 3º ano, essas mudanças devem acontecer em 2023 e em 2024, respectivamente. Ainda restava a dúvida se, mesmo com a extensão do prazo, seria possível já implementar algo no próximo ano. Entenda aqui a opinião de educadores e especialistas sobre o assunto e conheça a experiência da Bahia, da Paraíba, de Santa Catarina e de São Paulo.
Apesar da pandemia, vale destacar que tivemos experiências pontuais espalhadas pelo país – algumas redes conseguiram avançar mais na implementação e outras criaram programas com escolas piloto. Inclusive, algumas das novidades foram colocadas em prática durante o ensino remoto. Também foi realizado um esforço para homologação dos currículos alinhados à BNCC – em dezembro de 2021, apenas o Maranhão não havia enviado o documento para aprovação do Conselho Estadual de Educação.
Sem os professores, nada disso seria possível
Chegando ao final dessa retrospectiva, podemos cravar: 2021 foi um ano e tanto. E se conseguimos chegar até o final dele é porque o trabalho dos professores, mais uma vez, foi primordial para que a Educação seguisse acontecendo em todo o país.
Obstáculos não faltaram: muita gente, por exemplo, teve de se desdobrar com materiais impressos e WhatsApp para atender aos estudantes com pouco acesso a tecnologias e internet. E, no fim das contas, em meio a inúmeros desafios, como carga horária excessiva e falta de recursos, o período pandêmico trouxe ainda muitas adaptações e aprendizados. Aliás, o hábito de se reinventar e se aprimorar no ofício é algo que os professores possuem desde sempre, muito antes da crise pandêmica. O senso de emergência apenas reforçou essa característica, além de evidenciar a importância das redes de apoio e dos momentos de trocas coletivas entre os educadores como estratégias para se lidar com o estresse.
Com isso, 2021 se despede deixando evidentes o impacto trazido pelos educadores nas suas comunidades, incluindo naquelas afastadas dos grandes centros, e a diferença que fazem na vida de alunos e famílias.
[Fonte: Nova Escola]